Carnaval e Psicanálise

Por Fabiana Taques, docente ITIPOA

“Tudo que é profundo ama a máscara”
NIETZSCHE

O Carnaval está presente nas origens gregas de nossa civilização ocidental. Era uma festa profana de culto a fertilidade, comemorada com sexo e vinho, em reverência ao deus Dionísio.

O espetáculo carnavalesco carrega consigo uma história, traz na bagagem máscaras e fantasias de um mundo subjetivo que se revelam e ganham expressão nessa manifestação cultural, com o lema “tudo é permitido, o carnaval é de todos, e para todos!”

O carnaval provoca uma quebra na ordem social e permite uma inversão de papéis e valores. Esse período é representado pela mistura de cores, classes sociais, diversão e cultura.

Brincando com as instâncias psíquicas, poderíamos dizer que o Id se solta. Arromba a porta do porão, salta pra fora e vai pra folia, arrastando consigo o Ego, que num primeiro momento resiste, mas depois acaba aderindo a festa.

A festa do carnaval é considerada a manifestação popular por excelência e o lugar privilegiado da expressão do realismo grotesco. Na percepção carnavalesca assiste-se uma subversão das fronteiras entre o real e a fantasia.

Dentre os elementos explorados na festa, encontramos o riso. O riso é festivo, universal, todos riem e permitem rir-se de tudo e de todos. O riso grotesco exalta o “tempo alegre”, que participa no espírito da festa, mas também carrega o tempo da metamorfose, soberano, onipotente e mensageiro da morte. Lembremos do poeta Frejat que diz que “rir de tudo é desespero”.

No regime alegre carnavalesco, tudo é transitório, os corpos estão em permanente transformação flertando com o perigo e o proibido. O prazer entra em cena, marcando a satisfação do desejo, contrapondo à dor e ao tédio.

O carnaval parece ser uma licença poética do comportamento, um escapismo. Nesse momento as fantasias dão asas aos actings outs, parecendo tudo justificado pelo clima dionisíco do carnaval.

A máscara está longe de ser apenas um adorno de carnaval, ela tem um valor catártico. É um extravasamento, uma liberdade durante os dias de festividade, das rotinas cotidianas e da estagnação habitual.

Como diria Vinícius: “a gente trabalha o ano inteiro, por um momento de sonho, pra fazer fantasia de rei ou pirata ou jardineira, pra tudo se acabar na quarta-feira”.

Ainda no clima de brincadeira com as instâncias psíquicas, vou chamar o Superego que, embora tenha se deixado levar aos exageros dos companheiros Id e Ego nesses dias de folia, renascerá das cinzas e, com um olhar de superioridade, confirmará que voltaremos a sambar ao som das angústias do cotidiano nos próximos meses.