Em busca da Fonte da Juventude

Em busca da Fonte da Juventude
Por Paulo Soroka, docente do NIA ITIPOA

Pausânias, geógrafo e historiador grego do Séc II d.C, mencionou a existência de uma fonte, a qual chamou de Calatos, situada no Peloponeso, em que se banhava Hera, com o intuito de parecer sempre jovem e bela a Zeus, seu marido. Foi dito que era o próprio Zeus que, metamorfoseado em ninfa, rejuvenescia quem se banhava naquelas águas. Esta lenda se confunde com outras, como a do Rio da Imortalidade, de origem hebraica. Mas em que medida o anseio pela juventude eterna se aplica a nossos dias?

No mundo contemporâneo, em tempos de modernidade líquida, a adolescência tornou-se um ideal cultural, como afirma Calligaris; todos desejam alcançá-la e nela permanecer. Entretanto, a conta a pagar por esta permanência desmedida, posteriormente, será alta.

O que se observa na contemporaneidade é a articulação da adolescência com idéias de beleza, liberdade, autonomia, rebeldia e individualismo, os quais vieram a se tornar ideais.

A suposta existência da Fonte da Juventude – temática de novela televisiva atualmente em exibição – está alinhada com a idealização da juventude. Na novela, a Fonte da Juventude é um bem precioso da humanidade, e necessita ser protegida por guardiões.

O ideal social da adolescência é fenômeno que descortina a forma com que relações sociais são tecidas, em um contexto no qual imperam a aceleração do tempo, a fluidez e a efemeridade. Se antes os anciãos, detentores do conhecimento, ocupavam lugar de destaque na estrutura social, o que ocorre, nestes tempos de incessantes avanços tecnológicos, é o movimento inverso: são os mais jovens que dominam o acesso à informação e, em decorrência, passaram a ocupar lugar privilegiado.

As premissas da modernidade líquida engendram o surgimento de subjetividades que a elas melhor se articulem.

Como suportar a espera e a frustração, quando despontam a demanda da imediata satisfação e a tirania da imagem, em detrimento da construção do universo simbólico?

O que vemos na atualidade é o alargamento da adolescência. Aqui entram em cena tanto a moratória vigente no contexto da familia, como aquela que provém do entorno social. Desta forma, o ingresso no mundo adulto resulta obstaculizado.

Ao descrever a atemporalidade do Inconsciente, Sigmund Freud está indicando que todos temos várias idades. No cenário a que nos referimos, entretanto, o estado mental adolescente tende a usurpar o espaço da vida adulta.

Movidos pela busca da juventude eterna, tal qual Dorian Gray, algumas pessoas – “adultas” na acepção cronológica do termo – jamais deixarão de vivenciar a realidade sob o ponto de vista adolescente. Despreparados para enfrentar as demandas da vida, estes equilibristas na corda bamba pressentem que a qualquer momento a queda vertiginosa poderá ocorrer.

Sem rede de proteção.