Trabalho vencedor: Marcas para viver, tempo de Nascer. Reflexões sobre as exigências técnicas impostas pelo trabalho com pacientes – técnica do manejo como chamou Winnicott – que ainda não se tornaram pessoas totais.

Autora: Milene Wolff Mühle

Resumo: O trabalho se propõe enfocar a partir da contribuição de diferentes ciências a importância do estudo do universo primitivo, desde a concepção, para poder acompanhar pacientes que ainda não se tornaram pessoas totais. A partir de um atendimento proponho uma relação com o período pré-natal, especialmente o parto. Buscando amparo no referencial de Donald Winnicott.

Palavras-chave: universo primitivo; regressão à dependência; técnica do manejo; trauma do nascimento.

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Winnicott em Teoria do relacionamento paterno-infantil (1960) refere que o terapeuta que atende as necessidades de um paciente ao reviver esses estágios precoces na transferência, sofre mudanças similares as que ocorrem a mãe ao cuidar de seu bebê; mas o terapeuta, à diferença da mãe, precisa estar atento à sensibilidade que se desenvolve nele como resposta à imaturidade e dependência do paciente.

Para acompanhar esses pacientes que vivem no universo primitivo é necessário conhecer diversas ciências para compreender do que o paciente necessita. Quando lidamos com pacientes que regridem à dependência é preciso um afinamento da escuta que deve ser a partir de todos os órgãos dos sentidos, é preciso, ao terapeuta, imaginar o inimaginável para poder suportar as tensões que são pertinentes a essa tarefa.

No caso específico deste atendimento, tinha consciência de que a relação estabelecida representava para o paciente talvez a primeira oportunidade de se reconhecer. Daí o aprendizado: os limites de cada atendimento não são estanques nem rígidos. Devem ser estabelecidos a partir das vivências de cada uma das partes envolvidas. Esse limiar precisa ser trabalhado para que o vínculo seja forte suficiente para encorajar o paciente nessa viagem na busca de existir.

Muitas vezes nós, terapeutas, sem nos darmos conta norteamos nosso trabalho por teorias que estão parcialmente entendidas. É preciso considerar, no entanto, que a complexidade dos conceitos da teoria psicanalítica só poderá ser apreendida, se tivermos a oportunidade de entender o paciente em sua totalidade. Todos aqueles que se aventuram no ofício de psicanalisar estarão em contato com um sujeito que se constitui por meio de sua relação com o outro.

Para dar conta desses pacientes é preciso ampliar simultaneamente mais fronteiras: a da teorização, a da técnica e a da escuta, dentre outras. Trabalhar nesta vertente continua sendo um desafio e uma necessidade.

Quanto mais se conhece acerca da natureza humana – desde os avanços à respeito da concepção, passando pelos primeiros anos de vida, com as experiências próprias, assim como o papel do ambiente, da cultura, da transgeracionalidade – mais condições teremos de acompanhar os pacientes que ainda não se tornaram pessoas totais. Nesses casos, a teoria do amadurecimento de Winnicott é o embasamento teórico que oferece, ao terapeuta, em seu trabalho especializado, os entendimentos necessários para compreender cada fase do desenvolvimento.

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