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MÃE – de que mãe falamos?
Por Mery Pomerancblum Wolff

klimtAlguma questões vieram à minha mente à propósito da proximidade do dia das mães. De inicio, gostaria de dizer que não sou muito afeita a comemorar dias: dia da mulher, dia das mães, dia dos pais e outros tantos que existem. Acho que todas essas figuras que se pretende homenagear nessas datas, mereceriam homenagens diárias, mas isso não ocorre. Sei, como todo mundo o sabe, que essas datas tem mais uma finalidade comercial do que propriamente o objetivo de valorizar essas pessoas.

Mas não posso deixar de reconhecer que algo acontece nesses momentos. Pelo menos, de minha parte, reflito um pouco nesta data sobre a questão da maternidade. A imagem da mãe angelical que se desdobra para dedicar-se aos filhos se torna muito mais complexa nos dia atuais.

De que mãe eu desejo falar?
Somente da mãe/mulher ou poderia ser uma mãe/homem?

Quem sabe possamos falar de mãe como uma função que pode ser exercida por qualquer individuo que tenha o desejo e se sinta qualificado a exercer dita função?

Falo do individuo que assume a maternidade como único objetivo de sua vida? Ou da profissional, trabalhadora que tem uma jornada multiplicada pelo número de envolvimentos de seu dia a dia?

Da mãe que gesta ou da mãe que cria?

Da mãe que tem um companheiro ou daquela que cria o filho sozinha? Da mãe que é a avó, tia ou madrinha?

A pós modernidade nos apresenta várias leituras que podemos fazer desta função, mas entendo que, em sua essência, existe um aspecto – o feminino – que está presente na configuração da maternidade.

klimt2Este feminino a que em refiro possui uma dimensão do que é arcaico e não representado. Um registro que se encontra em busca de uma simbolização. A meu ver esse feminino constitui-se a partir do sexual, do psicosexual, não do gênero sexual que, na tessitura das relações objetais, constrói uma dimensão psíquica do que é subjetivo – qualquer que seja o gênero de cada um – e vai se tornando simbolizável e simbolizado na medida em que se constitui a mente.

Ressalto, como inerente ao feminino, uma característica presente em homens e mulheres, que é a capacidade de continência, ao que é receptivo, ao que é capaz da contemporização. Baseia-se em aspectos constitucionais, na identificação primária e nas transmissões feitas pelos pais mesmo antes do nascimento. Organiza-se na relação mãe-filho quando se constitui o sentido de ser do que é psíquico, subjetivo, com sua identidade propriamente dita.

É esse feminino, que está presente em todos nós, que nos permite exercer a função materna, independente de nosso sexo ou gênero ou de sermos biologicamente (ou não) a mãe. Nos permite acolher os filhos em nossa vida e em nossa mente propiciando um espaço de desenvolvimento e amor.

Tudo considerado, desejo um Feliz Dia das Mães a todas as pessoas que exercem essa função com a dedicação de que são capazes!


Marcas da maternidade
Por Ivanosca Martini

Mulher, como te chamas?- Não sei.
Quando nascestes, tua origem? – Não sei.
Por que cavaste um buraco na terra? – Não sei.
Há quanto tempo estas aqui escondida? – Não sei.
Por que mordestes meu anular? – Não sei.
Sabes, não te faremos mal nenhum. – Não sei.
De que lado estás? – Não sei.
É tempo de guerra, tens que escolher. – Não sei.
Existe ainda tua aldeia? – Não sei.
E estas crianças, são tuas? – Sim.
Wislawa Szymborka

O poema da polonesa Wislawa, Nobel de Literatura em 1996, através de palavras contundentes, de forma crua, destaca a marca profunda, visceral que a maternidade imprime na vida de uma mulher, transformando-a de filha em mãe. Todo o percurso deste processo complexo e único, marcará os embriões/fetos que carrega em seu ventre, da mesma forma como foi marcada pelas gerações que a antecederam, enquanto era gestada.

picasso2As inovações tecnológicas, envolvendo as diferentes técnicas de reprodução assistida, abre novas possibilidades à mulher, em seus projetos de engravidar, entre eles; gestações tardias, gestação por ovodoação por espermodoação, fertilização in vitro, “barriga de aluguel”.

Esta mesma tecnologia é empregada para criar verdadeiros úteros artificiais, recebendo pré maturos extremos de 25/26 semanas, pesando 400gr/500gr.

Avançamos muito, o homem é quase Deus! A criatura é o criador!
Como serão as marcas, nas novas gerações, destas vivências, a serem transmitidas desde o ventre materno?
Que idioma precisamos aprender para reconhecê-las?
Mães e bebês que nos convocam a uma escuta ampla que inclua as contribuições advindas das diferentes áreas das ciências, envolvidas a compreender o início da vida.